quarta-feira, 9 de março de 2016




Essa é para pensar e mudar de atitude.




A Igreja só tem uma missão – evangelização e missões?



Não tenho dúvidas de que o título deste texto é provocativo e, de certa maneira, é para despertar em você a atenção para este tão importante assunto. E, aqui, meu objetivo não é reduzir nenhum aspecto da Bíblia, mas ampliar a nossa compreensão do que seja a missão da Igreja e até despertar nossa percepção para ampliar nossa ação evangelística, missionária e de fazer discípulos. Vamos lá, e depois, você desejar se comunicar comigo sobre o assunto é só escrever para rega@batistas.org.

Por muito tempo temos aprendido que a Grande Comissão, isto é, o grande mandado de Deus para a Igreja e para o crente, é o ide. O texto bíblico se encontra em Mateus: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.19-20).

Assim, os crentes são instados a ir fazer missões, se não podem, então devem pagar a conta dando oferta missionária e pronto, cumpriram o seu papel e a consciência pode ficar tranquila. Analisando o texto em sua forma original no grego poderemos aprender mais.

·        O “ide” não é um verbo imperativo, portanto, a ordem de Jesus não está aqui. Em português não há uma forma correspondente. O mais próximo poderia ser “ao ir”. Jesus estava falando com os discípulos e encerrando a conversa mais ou menos assim: “Queridos, nós vamos encerrar esta conversa e vocês partirão e ao irem embora….”. Portanto, Jesus não estava dando para eles a ordem de irem, apenas avisando que ao final daquele encontro eles sairiam dali e caminhariam para seus lares;

·        O imperativo está em fazer discípulos, isto é, fazer seguidores, como Ele mesmo fez em todo Seu ministério. Então a conversa seria mais ou menos assim: “….Quando terminarmos aqui nosso encontro vocês vão partir e, ao irem, devem fazer discípulos”. Aqui está a Grande Comissão;

·        Fazer discípulos é fazer pessoas cópias de nosso modo de ser. O próprio Jesus disse: “Eu deixei para vocês o exemplo, para que, como eu fiz, vocês também devem fazer” (Jo 13.15). O apóstolo Paulo é mais claro ainda: “Sejam meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Co 11.1). Fazer discípulos é como uma transfusão de vida, é ter minha vida como modelo para que outros possam seguir. Como eu tomo minhas decisões, reajo em situações de emergência? Como é o meu temperamento? Como sigo as virtudes cristãs? O Espírito Santo tem oportunidade de produzir seu fruto por meio de minhas decisões e atos? Os outros podem copiar tudo isso de mim em suas vidas?

Infelizmente, com o correr do tempo esquecemo-nos do Evangelho integral e passamos a focalizar apenas um aspecto da missão da Igreja (finalidade para qual ela existe). Reduzimos a missão da Igreja, reduzimos a visão de mundo do crente e sua influência no mundo. Veja os seguintes itens:

·        A missão da Igreja passou a ser centralizada na salvação;

·        Enfatizamos o aspecto jurídico do Evangelho destacando apenas morte substitutiva de Jesus e esquecendo de que a Sua obra se completa com a ressurreição (I Co 15.45ss);

·        Damos destaque escatológico levando a pessoa a se preparar para após a morte e não também para a vida aqui hoje e agora, a ser sal da Terra e luz do mundo (Mateus 6) e que Ele veio nos dar vida abundante (João 10.10);

·        Ainda que necessária, a salvação se tornou num fim em si mesma, em vez de ser um conserto, um meio, para que voltemos ao estado original de onde caímos no Éden, para podermos viver, desde aqui e agora, para a Glória de Deus, isto é, viver em harmonia e comunhão com Deus, comigo mesmo, com o próximo e com a natureza criada. Por isso somos chamados por Paulo de novas criaturas (II Coríntios 5.17);

·        Não podemos mais continuar com esse Evangelho pobre e parcial, Paulo nos ensinou que devemos considerar o Evangelho como um todo (Atos 20.27).

Portanto, a missão da Igreja é mais do que evangelizar e fazer missões. Fazer discípulos se constitui a estratégia de ação da Igreja e requer vidas modificadas, transformadas. Ao longo do tempo, infelizmente as Igrejas foram se institucionalizando, criando programas, eventos e atividades, também necessários, mas foram substituindo o discipulado e deixando de lado a qualidade de vida dos crentes, sua maturidade cristã e emocional, assim não precisariam ser modelos de vidas para outras vidas.

Em outra ocasião vamos avançar um pouco mais explicando os demais detalhes da missão integral ampla da Igreja. Fica hoje para nós a reflexão de revermos esse ativismo que tem transformado o domingo de dia de celebração e descanso em dia de cansaço. Penso que estamos tão envolvidos na Obra do Senhor que estamos nos esquecendo do Senhor da obra.

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