Essa é para pensar e mudar de atitude.
A Igreja só tem uma missão – evangelização e missões?
Não
tenho dúvidas de que o título deste texto é provocativo e, de certa
maneira, é para despertar em você a atenção para este tão importante
assunto. E, aqui, meu objetivo não é reduzir nenhum aspecto da Bíblia,
mas ampliar a nossa compreensão do que seja a missão da Igreja e até
despertar nossa percepção para ampliar nossa ação evangelística,
missionária e de fazer discípulos. Vamos lá, e depois, você desejar se
comunicar comigo sobre o assunto é só escrever para rega@batistas.org.
Por
muito tempo temos aprendido que a Grande Comissão, isto é, o grande
mandado de Deus para a Igreja e para o crente, é o ide. O texto bíblico
se encontra em Mateus: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis
que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt
28.19-20).
Assim,
os crentes são instados a ir fazer missões, se não podem, então devem
pagar a conta dando oferta missionária e pronto, cumpriram o seu papel e
a consciência pode ficar tranquila. Analisando o texto em sua forma
original no grego poderemos aprender mais.
· O
“ide” não é um verbo imperativo, portanto, a ordem de Jesus não está
aqui. Em português não há uma forma correspondente. O mais próximo
poderia ser “ao ir”. Jesus estava falando com os discípulos e encerrando
a conversa mais ou menos assim: “Queridos, nós vamos encerrar esta
conversa e vocês partirão e ao irem embora….”. Portanto, Jesus
não estava dando para eles a ordem de irem, apenas avisando que ao final
daquele encontro eles sairiam dali e caminhariam para seus lares;
· O imperativo está em fazer discípulos,
isto é, fazer seguidores, como Ele mesmo fez em todo Seu ministério.
Então a conversa seria mais ou menos assim: “….Quando terminarmos aqui
nosso encontro vocês vão partir e, ao irem, devem fazer discípulos”.
Aqui está a Grande Comissão;
· Fazer
discípulos é fazer pessoas cópias de nosso modo de ser. O próprio Jesus
disse: “Eu deixei para vocês o exemplo, para que, como eu fiz, vocês
também devem fazer” (Jo 13.15). O apóstolo Paulo é mais claro ainda:
“Sejam meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Co 11.1). Fazer
discípulos é como uma transfusão de vida, é ter minha vida como modelo
para que outros possam seguir. Como eu tomo minhas decisões, reajo em
situações de emergência? Como é o meu temperamento? Como sigo as
virtudes cristãs? O Espírito Santo tem oportunidade de produzir seu
fruto por meio de minhas decisões e atos? Os outros podem copiar tudo
isso de mim em suas vidas?
Infelizmente,
com o correr do tempo esquecemo-nos do Evangelho integral e passamos a
focalizar apenas um aspecto da missão da Igreja (finalidade para qual
ela existe). Reduzimos a missão da Igreja, reduzimos a visão de mundo do
crente e sua influência no mundo. Veja os seguintes itens:
· A missão da Igreja passou a ser centralizada na salvação;
· Enfatizamos
o aspecto jurídico do Evangelho destacando apenas morte substitutiva de
Jesus e esquecendo de que a Sua obra se completa com a ressurreição (I
Co 15.45ss);
· Damos
destaque escatológico levando a pessoa a se preparar para após a morte e
não também para a vida aqui hoje e agora, a ser sal da Terra e luz do
mundo (Mateus 6) e que Ele veio nos dar vida abundante (João 10.10);
· Ainda
que necessária, a salvação se tornou num fim em si mesma, em vez de ser
um conserto, um meio, para que voltemos ao estado original de onde
caímos no Éden, para podermos viver, desde aqui e agora, para a Glória
de Deus, isto é, viver em harmonia e comunhão com Deus, comigo mesmo,
com o próximo e com a natureza criada. Por isso somos chamados por Paulo
de novas criaturas (II Coríntios 5.17);
· Não
podemos mais continuar com esse Evangelho pobre e parcial, Paulo nos
ensinou que devemos considerar o Evangelho como um todo (Atos 20.27).
Portanto,
a missão da Igreja é mais do que evangelizar e fazer missões. Fazer
discípulos se constitui a estratégia de ação da Igreja e requer vidas
modificadas, transformadas. Ao longo do tempo, infelizmente as Igrejas
foram se institucionalizando, criando programas, eventos e atividades,
também necessários, mas foram substituindo o discipulado e deixando de
lado a qualidade de vida dos crentes, sua maturidade cristã e emocional,
assim não precisariam ser modelos de vidas para outras vidas.
Em
outra ocasião vamos avançar um pouco mais explicando os demais detalhes
da missão integral ampla da Igreja. Fica hoje para nós a reflexão de
revermos esse ativismo que tem transformado o domingo de dia de
celebração e descanso em dia de cansaço. Penso que estamos tão
envolvidos na Obra do Senhor que estamos nos esquecendo do Senhor da
obra.